Quando os adolescentes não conversam com os pais
De repente, a criança
que chegava a casa e contava o que se passava na escola, no recreio, que falava
dos amiguinhos, tornou-se um adolescente de poucas palavras, que nada conta e
que, por vezes, reage menos bem às questões que os pais lhe colocam.
Privacidade é a palavra de ordem.
Ana Rodrigues da Costa
Na
primeira fase da adolescência é o que acontece, frequentemente, dado que, de
facto, precisam de repensar as relações sociais, restabelecer a estabilidade
emocional, refletir sobre as questões da identidade. E precisam também deste
tempo para se reorganizarem e responderem às necessidades desenvolvimentais.
Ora,
se isto é deveras preocupante para os pais, fazerem verdadeiros interrogatórios
sobre a escola, os amigos, o(a) namorado(a) leva, geralmente, a discussões
infrutíferas, e a que a referida privacidade seja defendida com unhas e dentes.
Mas é importante que os jovens falem com os adultos , que oiçam
outras opiniões que não as dos pares, que partilhem problemas mas também
sonhos, aspirações... que comuniquem.
As práticas parentais
com autoridade democrática, também elas importantes na adolescência, em que os
pais insistem nas normas, nos valores, nas regras, mas que, simultaneamente,
usam o calor e a aceitação, a disponibilidade para ouvir, para explicar e para
negociar, encorajam os jovens a formar as suas próprias opiniões.
Os pais devem ser participativos, comunicar com os filhos
respeitando-os enquanto indivíduos, dentro dos limites. A exigência em demasia,
a rigidez, a falta de flexibilidade e de compreensão podem tornar o adolescente
revoltado e sem vontade de comunicar. Ser demasiado tolerante e flexível pode, por contrário,
levá-lo a pensar que é pouco importante, que ninguém se preocupa com ele.
O controlo exercido
sobre a conduta dos filhos deve ser adequado, mas não castrador, invasivo. Se o
adolescente sente que não o respeitam, que não o tratam como uma pessoa
responsável, pode rejeitar a influência parental e procurar apoio e aprovação
junto dos pares, a todo o custo.
O que fazer para melhor
comunicar com os adolescentes?
Pelo menos uma vez por dia, a família deve partilhar uma refeição,
em que a televisão, os telemóveis e afins estejam desligados, de modo a que
cada um fale do seu dia, das suas preocupações, dos acontecimentos felizes, ou
seja, comuniquem.
Partilhar com o
adolescente tarefas, jogos, passeios, algo que lhe agrade, e durante esses
momentos falar e acima de tudo escutar (escuta ativa) o que o adolescente tem
para dizer, sem preconceitos, sermões ou juízos de valor. E sem emitir opiniões
desagradáveis acerca dos amigos, dos namorados, criticar negativamente ou dar
ordens, que poderão fazer com que o adolescente se feche e deixe de partilhar e
de comunicar.
A linguagem a usar deve
ser adequada, adulta, não a que os adolescentes usam. Cada um tem uma função
diferente, direitos e obrigações diferentes, idades diferentes e isso deve
ficar claro.
As conversas também
devem ser particulares, não à frente de amigos ou de familiares, porque muitas
vezes as opiniões destes ou a sua interferência podem causar conflitos.
Os adolescentes criticam
a autoridade e criticam os adultos em público mas se tal lhes acontece é um
drama — “todos vão saber… todos vão ouvir” (a audiência imaginária).
A boa notícia é que, ao longo da adolescência, e apesar de
começarem a passar menos tempo com os pais, esse é um tempo de “qualidade”, em
que a relação, os sentimentos e, consequentemente, a comunicação se vão
tornando mais positivos. Claro que todos se devem empenhar nesta melhoria que
deve começar a ser construída desde muito cedo.
in https://www.portoeditora.pt/paisealunos/, em 18/05>/2021, com adaptações
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